sábado, 24 de setembro de 2011

As pessoas e o Sexo.

Oi, Emannuel aqui. Algumas observações são necessárias sobre esse texto, acho. Ele ficou grande, e provavelmente é o mais explícito que já escrevi sobre o tema aqui no Talvez Blog. Os personagens são os mesmos das últimas estórias que escrevi aqui, mas não é uma continuação, na verdade é difícil dizer se acontece antes ou depois ou durante. Eu sempre considerei a personagem feminina como sendo a protagonista, mas, por conta da minha falta de habilidade (e mais alguns detalhes óbvios), não pude escrever a visão dela da forma como gostaria. Também espero que a forma que o assunto é abordado aqui não seja ofensiva para você que vai lê-lo. Acho que está bastante suave e não-explícito, mas acho melhor avisar que é, realmente, um texto sobre sexo. Era um texto completamente diferente e inconcluso, mas achei que ficava bem com esses personagens.
***
Os dois estavam na cama. Já era noite, mas ainda cedo, nenhum dos dois tinha sono, estavam simplesmente lendo, vez ou outra fazendo algum comentário engraçado ou sarcástico. Havia sido um daqueles dias quentes, quentes demais para dar vontade de fazer qualquer coisa além de ficar na cama, apesar de quente demais para conseguir dormir. A noite deixara o clima mais agradável, é verdade, mas já era tarde demais para começar a fazer alguma coisa fora da cama, preferiram continuar ali fazendo a mesma coisa.
Ele foi o primeiro a se cansar da leitura, como sempre. Ele amava os livros, é verdade, se perdia para o mundo externo e se afundava completamente na estória, tanto quanto é possível que alguém faça, algumas vezes se ligava tanto a uma estória que tinha que escrever, criar estórias que fossem suas para tentar redescobrir a própria identidade, para criar alguma ligação entre si mesmo e o mundo real, ou ao menos um mundo que não fosse aquele das estórias que estava lendo. Mas o fato é que ele se cansava (mental e oticamente) muito mais rápido que ela, apesar de reconhecer que ela precisava de mudanças vez ou outra tanto quanto ele (ela nunca estava lendo apenas um livro, então mudava de um para outro), talvez até mesmo mais. O fato é que ele parou de ler e ela não. Ele ficou ali, na cama, quieto, sem querer atrapalhar a leitura dela, simplesmente pensando. E olhando para ela de tempos em tempos, simplesmente para apreciar a beleza da expressão séria, dos cabelos soltos e dos centímetros –infinitos- de pele à mostra. Parecia um adolescente tímido que se vicia em olhar para a pessoa que gosta e pensa fazer isso furtivamente.
Ela, obviamente, percebeu, e não pode evitar um daqueles sorrisos que eram tão característicos dela, com o rosto ficando levemente rosado, não muito, com um pouco de malícia e um pouco de inocência. Quando os olhos dele se encontraram com os dela, quando viu no rosto dela aquela expressão, não pode –e não quis- controlar uma ereção. E deixou de lado o adolescente tímido.
Ela ainda tinha o livro nas mãos e o sorriso no rosto quando ele começou a beijar, lenta e suavemente, várias partes de seu corpo: as pernas, ao longo dos braços, os ombros (muitas vezes), os seios (com também suaves e lentas mordidas), a barriga, a parte interior das coxas. Até aí cada pelo do corpo dela já estava eriçado, e começou a colocar de lado o livro que lia. Enquanto ele finalmente chegava ao clitóris o sorriso também foi colocado de lado e deu lugar a outra coisa.
Apenas depois disso foram se olhar nos olhos novamente, ele aproximando seu rosto do dela aos poucos, até se beijarem. Muitos casais teriam nojo de fazer isso, mas ela não tinha esse tipo específico de aversão, assim como ele não tinha quando acontecia o contrário. Aquele, provavelmente, foi o momento mais perfeito para ele, mais até do que os que viriam a seguir, porque naquele momento – enquanto passava a senti-la por dentro – ela mordia suavemente o lábio inferior durante o beijo molhado, os joelhos dela se arqueavam e dobravam, embora não demais, e ele sentia as pontas dos dedos dela pressionando suas costas, as unhas, apesar de não muito longas, certamente deixariam marcas na pele por alguns minutos. Tudo era suave.
Ela pressionou um dos lados e ele prontamente entendeu. Os dois rolaram juntos na cama, ele ficando por baixo, ela por cima. Era a posição ideal para os dois, a que mais fazia com que se sentissem bem. Nessa posição podiam se beijar, se olhar nos olhos, sorrir um para o outro, conversar. Conversavam naquele mesmo momento, mas falavam coisas que não cabe aqui dizer.
As mãos dele se encaixaram nos seios dela, os mamilos se enrijecendo enquanto acariciados entre os polegares e os indicadores. Depois de alguns momentos e mais outros movimentos, uma das mãos dele desceu e foi se apoiar no quadril dela, enquanto a outra subiu e trouxe o rosto para mais perto. Ela sentiu algo de diferente naquelas mãos, viu algo de diferente naqueles olhos; e ouviu algo de diferente quando ele sussurrou com uma voz pausada a pergunta – ou seria um pedido? – “você me ama?”. As partes do seu corpo que não dependiam do seu uso da razão continuaram a fazer o que estavam fazendo, o resto, a parte de dentro, parou.
Ela precisava pensar para responder uma coisa dessas! E naquela situação ela não iria conseguir pensar direito, não teria o tempo necessário e não sabia por quanto tempo ele aceitaria ficar sem uma resposta, se é que ele realmente queria uma resposta. Ela nunca se importara com essa palavra a ponto de pensar se ela podia ser usada entre os dois, ou em qualquer situação, se fosse ser completamente sincera. Nunca havia falado para ninguém o que ele –aparentemente- queria que ela dissesse agora. Eram tantas as coisas que precisavam ser pesadas e medidas, consideradas, para chegar a uma conclusão dessas, e ela nem mesmo sabia a qual conclusão poderia chegar. Ela tinha certo medo de que ele pudesse sentir, que ele conseguisse sentir o que ela sentia por dentro. E ela sabia que gostava dele, gostava do que estavam fazendo antes dele fazer essa pergunta estúpida e maliciosa. Não, ela não amava, não sabia o que era isso, o que ele queria, não sabia o que ela própria queria. Ela fez a mesma cara séria que fazia enquanto lia e, para que ele não percebesse, o beijou. Ele deve ter interpretado isso como uma resposta positiva, ela pensou; ela conseguia sentir que era isso que ele pensava. Era culpa dele se estava interpretando isso dessa forma, ela não tinha culpa, não tinha o que fazer sobre isso, não antes de ter tempo para pensar. E demoraria até que fosse ter tempo para pensar.
Tentou esvaziar a cabeça dessas coisas, esquecer isso, voltar a se concentrar nas mesmas coisas que a ocuparam a alguns segundos atrás – isso não deveria ser tão difícil –. E conseguiu, embora apenas em parte. Enquanto continuaram ali juntos não conseguiu mais conversar leviandades como em geral. Conversaram através do corpo, e talvez tenham se entendido assim melhor que de qualquer outra forma que tentassem. Mas ainda assim, quando ele finalmente adormeceu, muito depois, continuou dentro dela. Ela não conseguiu tirar ele de sua cabeça, e pareciam ser duas pessoas diferentes a que estava ali com ela na cama e a que estava nos pensamentos durante a noite em claro. Ficou quieta na cama, quase que paralisada. Se levantasse iria acordá-lo e não queria pensar no que aconteceria se começassem a conversar naquele momento.
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