domingo, 28 de dezembro de 2014
Fora de casa
Acorrentado todas as horas de sol embaixo da terra
Escutava passos e o resmungar dos doidos
Logo após o tilintar apressado de alguma corrente
Era proibido gemer e chorar
Só era permitido sorrir
Pois a pena era se condescender à pena
E eu era tão triste, mas tão triste
Que quando de lá depois voltei
Esperava pelo menos um soco,
Ou uma lágrima
Mas eu ainda não tinha as forças
para chorar de tudo aquilo
terça-feira, 16 de dezembro de 2014
manhã de quinze de dezembro de 2014.
Nane deve ter gasto naquelas três horas de viagem mais de cinquenta reais de crédito. Seu tio tinha falecido no dia anterior, que coincidentemente era o dia anterior do aniversário de seu irmão, pai de Nane. Por esses dois motivos explícitos Nane então iria naquele dia fazer um lanche com o pai e a madrasta, Neuza, em São Paulo. Era uma surpresa.
Nane parecia uma ótima pessoa, daquelas que possuem ainda uma paciência sincera para escutar com eloquência e oferecer conselhos preocupados, e mesmo ainda que esses girassem em torno de misticismos, eu fazia força para escutá-la além dos jargões dos centros espíritas.
Por isso tudo a tal surpresa carregava um diálogo riquíssimo entre a morte e a reencontro.
Tentou discar primeiro ao pai, que por motivo de estar no trabalho não atendeu. A segunda opção foi a madrasta, que de tanta empolgação com sua chegada quase falava sozinha ao telefone, no sentido que suas palavras sobrevoavam Nane como se ela nem estivesse ali oferecendo levar uma sobremesa. Era o esquema do dia sendo apressado com carinho. Neuza pôs à mesa a questão de convidar também a tia que ficara viúva, Lúcia, a que Nane respondeu oferecendo-se com prazer para depois acompanhar a tia na volta em um táxi, deixando-a em casa a indo depois até o lugar onde posaria, que aparentemente não seria a casa do pai, mas sim em outro lugar.
Depois foi Leonora. E depois. E de novo, até que a ligação funcionou e elas puderam se escutar. Antes que Leonora pudesse expor seus planos e idéias, Nane já deixou claro o compromisso naquela tarde com o pai ao mesmo tempo que a total disponibilidade para os próximos quatro dias. A despedida selou as expectativas e ânsias energeticamente, e "tchaus" atropelaram-se até cessar.
Depois a mãe de Cristina, uma velhinha simpática da cidade de onde Nane acabara de sair, mas apenas para que pudesse perguntar o então telefone de Cristina, que também morava agora em São Paulo. E então foi para Cristina. E dessa vez não sei ou não me lembro o que se passou, mas de alguma forma, sem tentar abstrair, deve ter sido como no caso de Leonora.
Finalmente por último foi o pai, que agora era o que fazia a ligação. Tinha chego em casa e Neuza havia lhe informado, provavelmente com empolgação, sobre os rumos daquela tarde. Combinaram então de se encontrarem no metrô, onde o pai a buscaria de carro.
Pode-se dizer que Nane não me deixou dormir naquelas três horas. Mas eu também não a calei, e acabei dormindo um pouco sim nos curtos intervalos de um telefonema a outro. Quando chegamos em São Paulo, fiquei sem a imagem real, somente com a especulativa, de Nane, que provavelmente desceu do ônibus atrás de mim, cheio de expectativas.
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
Por que?
a porta já estava
aberta
e eu saía para tomar
um ar.
Por que? - eles me perguntavam.
Um dia passou um homem
e olhou como se eu fosse
fantasma.
Eu olhei de volta,
parado.
Por que? - eu me perguntava.
Naquela manhã aquele homem
tinha espancado
alguém.
E de tanto bater,
matou.
Por que? - nos perguntávamos.
Entrei correndo em casa,
sentei em frente da
televisão,
e só me levantei às cinco
da tarde.
Por que? - aparentemente não se sabe.
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
uma pequena estória de terror psicológico, ou, uma parábola sobre a solidão e a dependência
sábado, 6 de setembro de 2014
Crônica de uma viagem maluca
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Um e outro alívios
Não.
A coisa importante, pelo menos para mim, é que ela vai morrer. Não agora, não. Eu não acho que eu sei lidar com esse tipo de estória ainda. Nem daqui a poucos anos. Ela não tem nenhuma doença crônica misteriosa nem nada - além de um leve desconforto na gengiva quando ela usa pastas de dente que não sejam infantis. Ela vai morrer, provavelmente, só daqui a uns sessenta, setenta anos, bem depois de o texto já ter acabado. Talvez oitenta, se ela seguir até o fim da vida aquele programa maluco de dieta e exercício que a irmã dela inventou de elas fazerem, mas ela dificilmente vai ter paciência pra isso.
É importante que ela morra, e que eu esteja consciente disso, porque ela está consciente disso, o que é muito interessante. Eu gosto muito de escrever e ler sobre deuses e feiticeiros que vivem milênios e heróis e heroínas cujas canções os transportam para a eternidade, pode ter certeza. Mas ela não é uma dessas pessoas, e ela sabe disso, e isso provavelmente torna o sentimento do vento frio no pulso dela diferente, por mais que ela não se lembre disso em sessenta, setenta anos.
Caramba, eu nem sei o que vai pegar ela daqui a sessenta, setenta anos, mas pode ser que ela nem se lembre do que ela ia fazer hoje, com quem, e do porque isso era importante. Mas ela provavelmente vai se lembrar dessa sensação engraçada de expectativa que a gente sente quando vai fazer alguma coisa pela primeira vez. Não sei se ela ainda vai ter muitas coisas pra fazer pela primeira vez na vida daqui a sessenta, setenta anos, mas quem sabe? De qualquer forma, é uma sensação universal o suficiente pra ela se lembrar.
Pelo menos, é universal dentro do universo de nós dois, porque ela sente a sensação mais ou menos do jeito que eu sinto, então já é um universo maior do que a gente, certo? E talvez você também sinta, eu sei lá.
A coisa importante sobre ela ser só alguém que vai morrer daqui a pouco é que ela sente esse tipo de coisa que deuses e heroínas e feiticeiros provavelmente não sentem, e isso é muito interessante. Por exemplo, paulistana prevenida que é, o vento não a incomoda tanto pelo frio, mas porque está batendo no cabelo dela de um jeito que ela não gosta, porque isso vai deixá-lo embaraçado ou de alguma forma assimétrico, mas assimétrico do jeito errado.
Isso a incomoda por dois motivos:
Primeiro, isso a incomoda porque, por algum motivo, é importante que o cabelo dela esteja hoje, nessa ocasião em que ela vai fazer aquela coisa pela primeira vez, seja qual for, é importante que o cabelo dela esteja em ordem.
Segundo, isso a incomoda porque ela gosta de acreditar que não é uma dessas dondocas que ficam horas se arrumando na frente do espelho ou, ainda pior, em um salão de beleza, só pra fazer coisas, inclusive bem menos importantes que a coisa que ela vai fazer hoje.
Isso, por sua vez, a incomoda por dois motivos:
Primeiro, porque ela se lembra de que, por mais não dondoca que seja, e por mais que só gaste dinheiro com alguma coisa de maquiagem pra mãe dela e pro pessoal do trabalho não encherem o saco, e por mais que o penteado favorito dela seja prender tudo como der pra prender, ela até que sim, de vez em quando, quando passa um ônibus mais devagar, ou quando o metrô está parando, ou quando passa ao lado de um prédio espelhado, ela se dá uma olhada, confere se a postura está boa, elogia a disposição das cores da roupa que ela escolheu de manhã etc. Então ela tem que impedir a mente dela de discutir consigo mesma se isso é, de alguma forma, uma incoerência, o que é em si um saco - a mente dela é boa em contra-argumentar.
Segundo, porque ela acha que pensar nas dondocas como dondocas, além de ser terrivelmente século XX, pela terminologia, é uma coisa potencialmente muito machista. Eu não tenho certeza se ela pensa isso mais em termos de sororidade, ou de controle dos corpos, ou sei lá o que mais, porque ela provavelmente não lê os mesmos blogues que eu, e parece que curte muito a Judith Butler (de quem eu não li quase nada) e eu não tenho certeza como ela pensa sobre tudo o tempo todo, afinal.
Isso é também muito interessante e, eu acho, talvez um pouco assustador.
Tomando guaraná com você
Num ímpeto de ataque meu pai se projeta frente à minha mãe com a faca na mão. Ambos bêbados. Minha tia grita e se atira em cima dele para tentar impedi-lo, e meu tio vai atrás afim de derrubá-lo de vez, mas não antes que ele golpeie rapidamente a lâmina nas costas de sua cunhada. Minha tia morre, e ao receber um golpe cheio do irmão, meu pai roda e deixa a lâmina na própria barriga. Ele sangra muito, engole sangue, cai e também morre. Minha mãe grita em desespero e meu tio, em choque, tem os olhos abertos mas não olha em nada, e as lágrimas escorrem. Acho que corro, acho que desmaio, acordo no inferno e lá estão todos eles. Reencenam a cena de novo e de novo com infinda ira. Escuto risos. É meu próprio riso. Delirava. Acordo. Agora há um carpete de sangue. Minha mãe ainda grita, perdeu irmã e marido, eram todos uma família unida desde 85, e meu tio a sacode violentamente gritando calma. As pessoas chegam todas de fora para dobrar a realidade de novo, limpar, reparar os danos e continuar com o tempo. Olho o céu, as nuvens são imensuráveis, além delas não posso nem cogitar, sou também imensurável. Volto o olhar abaixo, olho o conteúdo que sorri ao mundo, engulo, olho ao lado, você me olha de volta. Não sei se algo importa nisso, mas sorrio de volta a ti. Obrigado, pelo menos agora posso sentir o gostoso do guaraná.
domingo, 3 de agosto de 2014
Sobre a paciência
sexta-feira, 27 de junho de 2014
Onde levou o bilhete
Concentrado naqueles sons que passavam por cima do muro, de repente pude escutar a voz da vizinha. Comecei imediatamente a especular. O marido era um cara tímido, mas das poucas vezes que nos falamos abertamente parecia muito simpático, e por esse motivo era meio estranho pensar que ele poderia tê-la agredido. A vizinha, no entanto, possuía certa agitação em primeira vista, mas o tempo a sublimava logo em alguma melancolia. Ela fazia lembrar uma dessas mulheres que sonham jovens e em segredo com algum tipo de futuro, mas que em algum momento acabou sendo intimada ou cobrada de um casamento, com seus pais dizendo que está na hora e que se não for agora não será nunca mais, que eles não podem mais sustentá-la e etc. Parecia ironicamente que o sonho perdido dessa mulher em particular era ser freira, levar a vida nu convento. Quando os via juntos, o marido e a esposa, ele sempre estava em primeiro plano alguns passos a frente, mas não por vontade dele, sempre a empurrava e a puxava junto, como se faltasse a ela algum bom senso de sinergia necessário para encarar junto dele as situações sociais. Além disso, e essa é uma característica importantíssima, ela era acolhedora demais, e não só com ele, mas também com os outros. Suas falas expressavam constantemente uma preocupação com o bem estar do marido e o conforto dos que estavam ao redor, e com clareza parecia viver sob esse propósito.
Escutei um grito, fraco, sofrido, destacava-se entre os gemidos. Com ele tive uma surpresa: os gemidos eram do marido, ele sofria. Eu tinha o número de telefone deles, poderia ligar e perguntar se precisavam de ajuda, cogitava, ou poderia chamar uma ambulância, a polícia, enfim, não sabia o que fazer. Não deveria ser nada, deveria despreocupar-me dos gemidos como fiz com os supostos gemidos do gato. Achava eu que vizinho devia ter se machucado ou coisa assim. O que veio a mente em seguida, porém, foi que sendo pouco tempo após o meio dia, a esposa teria acabado de chegar em casa do restaurante. Esqueci de mencionar que nessa época a esposa fazia meio período num restaurante ali perto. Parece que uma amiga era a dona e também uma ótima cozinheira, e por relatar que havia recebido reclamações do marido, insatisfeito com sua habilidade, ou falta de, na culinária, a esposa conseguira uma ajuda da amiga experiente com uma espécie de emprego construtivo, e ainda a deixava preparar um almoço no restaurante para levar ao marido como prova de seu esforço. Tendo acabado de chegar em casa então, será que ela havia encontrado o marido já em dor ou será que num ato súbito de realização da própria vida quis quitar as dívidas com seu futuro desperdiçado e na falta de resposta teria partido pra cima do homem com e o machucado? Até mesmo podia ser um caso amoroso, de ter encontrado o marido com outra e ter trocado em tal situação o juízo pela violência. Não soubera dizer naquele momento apesar de aproveitar o exercício.
No fim, acabei ligando. Fui até a sala em direção ao telefone e reparei que de lá também podia escutar os gemidos, agora ainda mais altos, numa questão de talvez uns três minutos. Ela atendeu o telefone:
_Alô?
_Dona Velma?
_Sim, quem é? - sua voz era meio tremida
_Seu vizinho, X., vocês estão precisando de ajuda?
_A-a-ajuda? Não, não precisa, já liguei, estão vindo!
_O que está acontecendo? Quem está indo? Não tenho como não ouvir daqui de casa...
_Desculpe, a ambulância, meu marido está com muita dor, não sabemos o que é!
Nesse momento houve o som da sirene da ambulância descendo a rua. Desligamos o telefone imediatamente sem nos despedir. Ela e eu, como se não tivéssemos mais o que falar nem explicações para dar ao desligar o telefone. Peguei meus documentos e meu celular e desci imediatamente para a rua. Lembro-me de vê-la na porta de sua casa, enquanto tiravam o marido de casa com uma maca. Não estava em prantos, mas tinha um choro contido, estava assustada. Observei a situação e fui até ela. O marido, continuamente em agonia, foi rapidamente posto em posição no carro e não consegui vê-lo com atenção. O homem da ambulância fez sinal que saía e perguntou se eu poderia fazer a gentileza de levar a senhorita ao hospital em minha própria condução. Perguntei então se ela queria carona para o hospital, ela disse muito obrigado e que queria sim. Fomos. A partir daí as coisas foram muito rápidas e loucas. Chegamos no hospital e a ambulância que entrara por um local especial já estava vazia, o pessoal já havia enfiado o marido pelos corredores e alguns enfermeiros levaram a mulher e nos separamos, acho eu que lhe perguntavam coisas de praxe enquanto entregavam papéis para preencher. Tudo isso foi com muita pressa sem que tivéssemos tempo de refletir no assunto, o que fez a situação parecer desesperadora, ou mais grave do que parecia desde que ouvi os gemidos na cozinha. Ela voltou, não disse uma palavra e sentou-se ao meu lado na sala de recepção. Disse a ela que esperaria, para ela se tranquilizar. Uma TV ligada para nos distrair não cumpria esse seu papel e eu pensava cada vez mais quanto tempo teria que ficar ali. Enquanto aguardávamos, ambos visivelmente cansados, vieram nos dizer que o haviam sedado por causa de seu estado inquieto e faziam exames. Ela fez como se fosse perguntar sobre a situação do marido mas o enfermeiro deu as costas e saiu em direção ao corredores antes que ela pudesse. Senti dó. Foi uma eternidade até que ela fosse chamada novamente, dessa vez pelo mesmo enfermeiro que tinha escapado aquela hora. Não foi levada a sala alguma, apenas a alguns metros a frente, no canto que se formava na sala antes da entrada para o corredor, e vi, lembro exatamente, como de repente a mulher quase caiu no chão dando um berro estranhíssimo, daqueles que agente não conhece até ouvir. O marido, segundo aquele infeliz e eleito enfermeiro, havia falecido. Não tenho a mínima ideia como é que fui parar em casa e que horas eram, mas lembro-me que durante esse tempo de choque e frenesi até o cheiro do meu próprio escapamento, ao estacionar o carro em casa, a mulher saiu e voltou várias vezes em minha presença. Numa dessas vezes fui chamado junto com ela para uma sala separada onde deram-na alguns calmantes, um copo d'água que ela não chegou a beber por inteiro e que provavelmente era o segundo ou terceiro que recebia, e uma imagem de raios-X do seu marido, mostrando um esbranquiçado anormal aonde era provavelmente seu estômago. Explicaram-nos que ele havia engolido um pedaço de papel ainda naquela manhã, e que devido a uma anomalia genética hereditária, uma forte rejeição à tintura no papel teria dado início a um processo em cadeia e não me lembro o nome disso e daquilo e que o acabara matando. Foi horrível. Mas o fato intrigante foi o de que ao retirarem o papel na autópsia, logo em seguida, puderam desdobrar um bilhete que dizia:
"Querida Velma, não suporto mais essa vida aqui e não suporto mais você, gostaria de ter aguentado um pouco mais e que as coisas não tivessem que acabar assim. Adeus."
Deixando em aberto várias questões. Teria ele se matado? Na minha opinião, não. Não é possível que ele soubesse sobre aquela história de doença genética e todo aquele papo de como engolir um papelzinho causaria sua própria morte, e ele nem tinha o jeito de bolar uma morte assim tão poética, até mesmo porque sofreu de dor por pelo menos durante uma hora antes de falecer. Mas então o que era aquele bilhete? Porque o tinha engulido? Além disso, tinha que tê-lo feito antes da mulher chegar em casa. A hipótese que formulei, mas que obviamente não posso comprovar e sobre a qual não tive a falta de escrúpulos para investigar mais na época com a vizinha, é que o marido, descontente com alguma coisa que acontecia em sua relação com aquela mulher, planejava ou se matar ou fugir dali, mas acabou se enganando com o horário e foi surpreendido pela mulher que chegava do serviço, logo quando posicionava seu bilhete de despedida, e para se livrar dele o engoliu, tendo como resultado a maldita rejeição e para fins práticos, a morte.
terça-feira, 13 de maio de 2014
Casos de Amor (ou o Coelho e a Tartaruga)
sábado, 10 de maio de 2014
Matar saudade
Floriram-se expectativas, anseios, imagens
Pouco antes deste momento eu já especulava
Algumas extravagâncias, passeios, bobagens
E agora impressiono-me, com alguma estupidez
O extraordinário de uma plena lucidez
Sou perdido no tempo um teu amigo
E sólido em ti, num cantinho, um meu abrigo
sexta-feira, 18 de abril de 2014
A segunda pessoa.
Tradução de música incompleta e Fragmento de auto-ajuda literária.
terça-feira, 15 de abril de 2014
Bons irmãos
Força e lei
Lei pela força
Força para lei
Somos bons irmãos
Respeito, cordiadilade
Somos super-heróis
Nós, e mais ninguém
Mais do que animais
domingo, 30 de março de 2014
Amor próprio alheio
Nessas semanas de horas tão sem fim
Dessas de olhar você pra você mesma
E até você achar você ruim
Em que você só quer deitar na cama
Pra se ver longe de você enfim
Não tem lhe juro solução mais linda
Do que me dar você você pra mim
quinta-feira, 27 de março de 2014
Ritual
Evoco nomes, invoco seres
Falo torto e errado
Uso giz, telha e sangue
Prego e pedaço de pau
Teclado e até lápis
E papel
Abro a janela
De luz apagada, luz acesa
Penso, escrevo
Canto, danço, amo
E faço o pacto de que
Mesmo que o mundo me engula
Vomitará
quinta-feira, 6 de março de 2014
A luz de um poste
É na penumbra que vem abaixo, depois da grande e retalhada escuridão da copa, que eu me encontro.
Sou ao mesmo tempo repelido de seu centro mas mantido em seu halo, e sobre a influência de seus membros dourados, pressiono-me contra o chão, abandonado por mim mesmo.
Ali, a triste lembrança de um espírito pleno, um sorriso puro, inquieta-me.
Tsc.
Estala uma rebeldia, gerando forças quase suficientes para que eu desvie o olhar.
Shmm...
Quase desvio.
Hffffff...
Mergulho novamente. Mergulho nessa imagem e ela mergulha em mim.
Concentram-se noites de verões a invernos. A nostalgia lembra-me de muita coisa: mas são só imagens, e dúbias. Tudo, desde sempre, diz que sempre existe uma culpa, e ela é sempre de alguém. Talvez alguém muito especial e escondido, talvez a própria estrela e quem passa por ela. Até condenam a solidão. Porém hoje não há alguém.
Hoje imagino fotografias.
Sob a mancha de luz e na sombra, levanto-me. Levanto-me de tal imagem, levanto-me de todas as distâncias e respiro o ar de vidas e mortes. Só existe eu e as coisas, as casas, os postes.
Dou de costas, volto ao caos ordinário. Finalmente para afundar.
domingo, 9 de fevereiro de 2014
PííííBüüü
Tu Dum
Tu Dum
Tu Dum
Tu Dum
Tu Dum
Tu Dum
Tu Dum
Pííííííííííííí
[Esse túnel para onde vai?
Como será tal futuro?
Nem um pouco sozinho
Preparo-me para a parada]
Büüüüüüüüüüü
— Estação..Sé. Desembarque pelo lado esquerdo do trem.
domingo, 26 de janeiro de 2014
We never know ourselves.
Anyways, I decided to reach you just to let you know, as you might, that I still see you, and the broken glass we’ve left behind scattered light all over, it is beautiful. I hope your life turns out to be the best of all our. We never know who we are until we see ourselves hugged in front of that thing, don’t you think?
sábado, 25 de janeiro de 2014
São Paulo
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
Cats and dogs (b).
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
Viagem (Açaraí nº2)
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('------------=/[[(.,.)]]\=------------')
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~'~".,."~~~~~ ~~ ~~~~".,."~'~
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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
domingo, 19 de janeiro de 2014
Cats and dogs.
He had a cat called Deleuze.
The first he did when he arrived home was to go get his cat. He had been out of town for quite a long time. Too long maybe. When he left, he was in a relationship. Nothing seemed more natural then than to leave the cat with his significant other. The thing is, he was away for far too long. The relationship was now over, but, fortunately, they kept at least a decent respect for one another. So, it was a little weird to go meet someone with whom he had a relationship no more and ask to have the cat back. What if it was one of those involuntary heirlooms people get when they broke-up? Still, it was surprising how well things went. It was probably a result of the mutual awkwardness of exes who don’t really have anything to hold against each other but at the same time know that things are definitely over among them. The thing is, when he opened the door to his dusty-filled apartment, he was carrying a huge carrier bag on one hand and a black-and-white cat on the other one. Deleuze was a suspiciously thin cat; bony and awkward. He moved not with the confidence usual to most felines, but with a shyness that seemed to be out of a song by The Smiths.
She had a dog called Byron.
It took her and awful long while to find a place to live where she could have a dog, especially a dog as big as Byron. The big city seemed to be terribly uncaring about the animals living in there. She was actually a pet-person. Back in her hometown she had quite a few of them, but most she had to leave at her parent’s house. She moved to the city to study in the university, and she wouldn’t be able to give the pets the attention they required, even if she had found a place where she could keep them all, which wasn’t the case. She was now sharing a house, and her flatmates were not entirely happy about having the big coffee-colured Labrador there. But time would teach them to like the happy dog. She couldn’t find the guts to leave Byron behind, with the other pets. He had been by her side since she was ten years old. It got his name due to a slight shorter hind leg that made his walk look clumsy, but that was overshadowed by the inherent joy and majesty that Byron emanated. The dog made her feel happy, and that was the ulterior reason why she couldn’t let go of him. And also the reason why everybody ended up loving him, sooner or later.
They met in front of the cinema.
It was one of his favourite places in the city. He had to go there and see if it was still the way it used to be. It wasn’t.
It was a very cozy place, with a vintage air, in a quite old building. Now it’s almost contemporary. The outside looks haven’t changed that much, but the old movie poster have been replaced by ever-changing images on flat screens. The café there is now bigger, but it lost the tables it had on the outside. Apparently it’s no more possible to enjoy a cup of coffee under the willow tree on the backyard.
She was walking Byron. She lived nearby and loved to walk her dog. Especially since she couldn’t quite believe that she was living in the city and walking there made everything look real.
He was disappointed with the changes he was seeing everywhere, even in places close to his heart, like that cinema. She was temporarily amazed by the big-city lights, by the buildings and didn’t really realize that Byron approached someone. The dog caught his eye ‘coz it was majestic, even if limping. The voice of someone talking to Byron made her come back from her wonderings.
He said that that was a beautiful dog.
She asked if he was a dog person.
He answered that not really, that he liked cats better.
She told him she liked animals in general. That she missed the cats she left behind, but that her dog made her company.
He jokingly talked to the dog, as a mean of talking to her, saying of course, such a Don Juan might charm everyone he meets. And asked her if she had moved to town recently.
She replied yes, to study at the university and be and animal activist.
They smiled at each other with empathy and parted ways.